A Jornada do Herói – parte 1

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Você, que escolheu ser escritor ou quadrinista, abraçou uma opção bem séria: passar a vida contando histórias para entreter ou divertir as pessoas. Por causa disso, cedo ou tarde vai acabar encontrando dois nomes: Joseph Campbell e Vladimir Propp. O quanto antes conhecê-los, melhor. Infelizmente, cabe a mim o papel de vilão que vai lhe apresentar esses dois. Já, já, você entenderá isso.

Joseph Campbell e Vladimir Propp são os maiores estraga-prazeres da história – em mais de um sentido que essa frase pode abranger. Ambos estudaram lendas, mitologias, contos de fadas, literatura clássica mundial e descobriram que todas essas narrativas têm pontos em comum, que acabamos encontrando também nos livros, nos quadrinhos e no cinema. Campbell nomeou essa narrativa com pontos em comum de A Jornada do Herói. Vladimir Propp criou O Paradigma que leva seu nome.

Vejamos primeiro a descoberta de Campbell.

Em A Jornada do Herói, encontramos o personagem em seu mundo cotidiano. Lá está ele, todo contente e sossegado, curtindo (ou não) sua rotina. De repente, algo acontece, algo que necessita sua total atenção: é o chamado para a aventura.

Em um primeiro momento, o personagem não sabe se atende ou não a esse chamado. É a recusa. Mas estamos falando de obrigações, estamos falando de aventura, então ele não tem que querer nada. Vai atender ao chamado e ponto final.

O personagem/herói sai de seu mundo cotidiano e encontra um mentor. Um mestre, alguém mais velho, que irá transmitir-lhe ensinamentos. Em seguida, os amigos, os companheiros, e para história não ficar chata, os inimigos, as dificuldades, o grande desafio a ser vencido.

Resolvidos esses problemas, o personagem ganha um prêmio, uma recompensa. É a hora de voltar para casa. Só que não volta sozinho – traz consigo essa recompensa, que será de grande benefício para todos.

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Agora pense no seu quadrinho, livro ou filme favorito. Veja-o se encaixar nos itens abaixo.

  • O mundo cotidiano.
  • O chamado para a aventura.
  • A recusa ao chamado/dúvida.
  • A saída do mundo cotidiano.
  • O encontro com o mentor.
  • Amigos, aliados, inimigos, dificuldades, provas, desafios a serem vencidos.
  • Resolução do problema e recompensa.
  • A volta para casa com a recompensa que beneficia a todos.

Alguns desses itens podem variar um pouco. A recusa ao chamado não precisa exatamente partir do herói. Alguém próximo pode impedi-lo. Apenas ele, porém, tem a obrigação de romper esse obstáculo. O mentor não é necessariamente o “mestre sábio de barbas brancas” – a situação em que o personagem se mete pode muito bem fazer esse papel na aventura.

Talvez você tenha percebido uma coisa. Mesmo em histórias mais “paradas”, em que não haja um pingo de ação, correrias, perseguições, explosões, tiroteios, lutas, cenas de perigo ou o que quer que seja – nessas, também o personagem passará por todas as etapas da Jornada do Herói. Sabe por quê?

Porque a Jornada do herói nada mais é do que uma metáfora do amadurecimento. Quer ver? Pense na sua vida até aqui.

Você não vai precisar de muito esforço para recordar alguma época em que passou por essas etapas. Mudança de endereço, mudança de escola, falecimento de alguém próximo, alguma viagem inesperada… sempre saímos da rotina, enfrentamos dificuldades, conhecemos alguém e voltamos para casa.

Com um detalhe: a pessoa que você era antes do chamado da aventura não é mais a mesma que voltou para casa. Você amadureceu.

Semana que vem voltamos com o Paradigma de Vladimir Propp.

2 comentários sobre “A Jornada do Herói – parte 1

    1. OI, Naiara! Apesar de ser bom conhecermos “A Jornada do Herói” do Campbell, convém não bitolar nela quando formos escrever. É o que direi na segunda parte, com o Paradigma do Valdimir Propp, que tem pontos parecidos.
      Abração e ótimo Natal!

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